6.11.10

O nascimento da eugenia no Ocidente


Em Esparta, pólis da Grécia Antiga, por volta do século V a. C., quando uma criança do sexo masculino nascia era levada imediatamente a um conselho de anciãos, os quais a examinavam procurando por imperfeições físicas e até psíquicas que, no futuro, iriam atrapalhar o treinamento e o exercício militar pelo qual aquela criança irá passar ao longo de sua vida.
            Detectada qualquer deformação, os anciãos sacrificavam a criança, lançando-a do alto de um monte. O sacrifício ocorria, pois os espartanos, povo que vivia em virtude da guerra, julgavam que a criança imperfeita não seria um militar ou guerreiro forte e saudável para servir com eficácia nas falanges de Esparta.
Essa seleção dos “melhores” ou dos “bem nascidos” denomina-se eugenia, do grego eugene.
            Desde então, a eugenia esteve presente em diversas culturas ao longo da História, mas só foi devidamente teorizada no século XIX, por um cientista britânico – Francis Galton, primo de Charles Darwin, o teórico do evolucionismo.
            Galton viveu na Inglaterra num período de grandes transformações sociais, marcada pela aceleração da urbanização e da modernização industrial.
Com o crescimento desordenado das cidades, começaram a surgir nas periferias os bairros habitados por milhares de operários vivendo em precárias situações – abandonados pelas autoridades - sem o mínimo de dignidade, higiene e salubridade.
            Nesse contexto de crescimento urbano e populacional, em que as doenças venéreas grassavam as pessoas, que Galton formulou sua teoria da eugenia, preocupado, sobretudo, com os elevados índices de natalidade das classes pobres, a quem o cientista considerava “inferior”, desprovida de talento e multiplicadora de doenças degenerativas da raça humana.
Enquanto isso, a classe abastada – a burguesia industrial e comercial –, que julgava ser a mais talentosa e saudável, tinha um crescimento vegetativo que não acompanhava o apresentado pelas classes “inferiores”.
            A eugenia, ciência do melhoramento da raça, seria, portanto, um instrumento para corrigir a distorção no crescimento populacional dos ricos e pobres. Para isso, subdividia-se em eugenia positiva e negativa. A primeira para estimular a reprodução de casais eugenicamente “superiores”, e a segunda para restringir a multiplicação dos seres “inferiores”, inclusive, através de medidas coercitivas que seriam aplicadas pelo Estado para assegurar a vida e a saúde da raça humana.
            No século XX, com a ascensão do nazismo na Alemanha, a eugenia foi praticada ao extremo. Hitler, sob o pretexto de preservar a pureza racial alemã, perseguiu e eliminou, sistematicamente, minorias étnicas, como eslavos, judeus, homossexuais, pessoas com deficiências físicas e mentais. Em suma, a eugenia serviu muito bem aos propósitos do nacional-socialismo, demonstrando o quanto a ciência pode ser perigosa se empregada a favor da intolerância e do radicalismo político.      

Rodolfo Alves Pereira
Professor da Rede Estadual de Educação de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.

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