5.9.12

Só os africanos eram escravizados?

A resposta é não! Além dos africanos, diversos povos, inclusive os europeus, vivenciaram a escravidão. Em praticamente todas as sociedades antigas, na América, Europa ou África, houve formas de escravidão e servidão, uma prática que subjugava alguns grupos sociais em benefício de outros. 

A escravidão também não foi uma invenção do Europeu na Idade Moderna, com o advento das Expansão Marítima e a colonização da África e da América, esse método de exploração do ser humano já existia na Antiguidade, no Egito, Mesopotâmia, na Grécia, em Roma etc.

Passaremos a estudar as características da escravidão ao longo da História, em diferentes épocas e sociedades, chegando até os dias atuais. Apertem os cintos e boa viagem!

Escravidão no Mundo Antigo

A Mesopotâmia, localizada no atual território do Iraque, é apontada como o berço da civilização, pois foi lá que os arqueólogos encontraram os vestígios mais antigos de cidades e de uma forma de escrita, chamada cuneiforme, atribuída aos sumérios, povo que ocupou a região por volta de 4000 a 1900 a.C.

Ao longo da História dessa região as guerras e as disputas entre as cidades-estado eram muito comuns, elas lutavam entre si pela posse de terras mais férteis. Os conflitos  geravam derrotados, os quais acabavam sendo escravizados pelos vencedores.  Estes escravos eram utilizados na agricultura e nas obras públicas, onde trabalhavam lado a lado com camponeses livres, que também era convocados para auxiliar na construção de barragens, muralhas e templos.

Passemos agora para outra civilização antiga, a egípcia.

Quem não conhece a passagem bíblica do Antigo Testamento, na qual Moisés - guiado por Deus - vai ao Egito para libertar seu povo e guiá-lo para a Terra Santa?

"Estabeleceram, pois, sobre eles chefes de trabalhos forçados, para os oprimir com tare­fas pesadas. E assim os israelitas construíram para o faraó as cidades-celeiros de Pitom e Ramessés. Todavia, quanto mais eram oprimi­dos, mais numerosos se tornavam e mais se espalhavam. Por isso os egípcios passaram a temer os israelitas,e os sujeitaram a cruel escravidão. Tornaram-lhes a vida amarga, impondo-lhes a árdua tarefa de preparar o barro e fazer tijolos, e executar todo tipo de trabalho agrícola; em tudo os egípcios os sujeitavam a cruel escravidão." (Êxodo, capítulo 1, 11-14.)

A passagem bíblica descreve como os egípcios tratavam os escravos, e obrigavam que estes trabalhassem nas grandes obras do Estado egípcio, tais como a construção das pirâmides, diques e barragens ao longo do Nilo, na produção de alimentos dentre outras.

Acredita-se que tal fato tenha ocorrido por volta de 1270 a. C. É importante ressaltar que a maior parte da mão de obra empregada na construção das pirâmides era formada por trabalhadores livres, que eram convocados e remunerados com gêneros pelo Estado.

Os escravos na Antiguidade, geralmente, eram prisioneiros de guerras, fruto das disputas e batalhas envolvendo povos vizinhos. Os derrotados acabavam sendo submetidos pelos vencedores à escravidão. Havia também alguns mercados onde escravos eram vendidos.

Como podemos perceber no trecho bíblico a vida do escravo não era fácil, o mesmo pode ser notado nas imagens ao lado. Os escravos eram forçados a trabalhar nas minas e pedreiras, atividades exaustivas e perigosas que consumiam as vidas dos indivíduos. Eles também sofriam com os castigos físicos.

O escravo não recebia nada pelo seu trabalho, exceto água e comida. O Historiador Jaime Pinsky (2000) destaca que tanto no Egito quanto na Mesopotâmia Antiga, diversos trabalhadores eram recrutados pelos governantes para construírem barragens e templos. Esses indivíduos tornavam-se propriedades dos governos enquanto durasse o tempo de execução da tarefa, mas não eram vendidos como escravos. Após o fim dos trabalhos, podiam retornar às suas atividades anteriores.

Claro que os escravos não aceitavam sua condição social de submissão e, em alguns casos, se rebelavam, fugiam e enfrentavam seus proprietários, como aconteceu na narrativa bíblica e os hebreus deixaram o Egito, liderados por Moisés.


Escravidão à moda Clássica

Muito bem, depois de conhecermos um pouquinho sobre a escravidão no Egito Antigo, navegaremos agora em direção ao norte, deixaremos a África, cruzaremos o Mar Mediterrâneo e desembarcaremos no sul da Europa. Assim chegamos na Península Balcânica, berço da civilização ocidental, onde viviam os gregos, depois iremos para a península itálica, a oeste, local onde surgiu a civilização romana.

Em Esparta, pólis da Grécia Antiga, por volta do século VIII a. C., havia uma forma de servidão semelhante ao regime escravo. Os guerreiros espartanos submeteram pela força de suas armas diversos povos vizinhos, estes eram chamados de hilotas, Os hilotas não tinham direitos e poderiam ser assassinados a qualquer momento, sem que nenhuma punição fosse aplicada ao assassino, e eram obrigados a trabalhar e a dar uma porcentagem dos gêneros cultivados aos espartanos.

Contudo, os hilotas não eram escravos, pois não eram propriedade dos espartanos, mas compunham uma comunidade a parte da sociedade espartana, sem exercer a cidadania.

Os hilotas não aceitavam pacificamente a submissão, sempre se revoltavam e enfrentavam os espartanos, mas acabavam derrotados pelo poderio militar de Esparta.

Em outra pólis muito conhecida, a cidade de Atenas, também havia a escravidão. Camponeses e artesãos empobrecidos perdiam o status de "livres", caso contraíssem dívidas que não pudessem pagar. Estes então tornavam-se escravos para pagar a dívida com seu trabalho. O sistema de escravidão por dívida só foi abolida por volta de 594 a. C., pelo arconte da cidade Sólon. Outra meio de se tornar escravo era por meio de guerras, quando os povos derrotados eram subjugados pelos vencedores e conduzidos aos mercados de escravos ou seguiam para propriedades do governo, para exercerem diversas tarefas.

Atenas, que foi o berço da democracia (governo do povo), não era lá tão democrática assim, pois a cidade mantinha escravos e, evidentemente, que esse grupo social ficava excluído dos processos decisórios e das discussões da políticas públicas na cidade. Esse direito só cabia aos homens atenienses, com 18 anos ou mais.

Segundo o historiador Pedro Paulo Funari (Grécia e Roma, 2002) havia em Atenas , no ano de 431 a. C., cerca 110 mil escravos, o que representava um terço (1/3) da população total.
Eles eram em sua maioria prisioneiros de guerra, gregos ou "bárbaros", como eram chamados os não-gregos. Os descendentes dos escravos eram considerados "instrumentos vivos".

Veja como a massa escrava estava distribuída, de acordo com as tarefas (valores aproximados):
Minas de prata: 30 mil
Trabalho rural: 25 mil
Trabalho urbano: 73 mil

Enquanto os cidadãos atenienses discutiam política na Ágora (local destinado às Assembleias), os escravos mantinham a democracia de Atenas com o suor de seu trabalho, com isso permitindo o ócio e o tempo livre de seus senhores, para que esses pudessem exercitar a sua cidadania e cuidar dos assuntos públicos. No Mundo Clássico -Grécia e Roma antigas - as atividades manuais e lucrativas, tais como o comércio, eram desprezadas e deveriam ser exercidas somente por pessoas pobres e escravos.

Apesar das dificuldades e da vida sofrida, os escravos conseguiam juntar algum dinheiro com o qual poderiam comprar de seus donos a sua liberdade. Entretanto, mesmo após receberem a alforria em uma cerimônia conhecida como manumissão, o escravo liberto ainda mantinha vínculo com o seu senhor, devendo-lhe alguns serviços quando fosse requisitado.

Agora chegamos em Roma, atual capital da Itália. Essa cidade, segundo a lenda teria sido fundada em 753 a. C., começou a crescer e viveu diferentes períodos políticos, tais como a República e o Império.
Roma cresceu tanto que deixou um grande legado cultural por toda a Europa e, por que não dizer, até na América, já que fomos colonizados pelos europeus.

A exemplo do que ocorria em Atenas, os romanos mais pobres também se tornavam escravos devido as dívidas que fossem contraídas. Somente com muita luta da plebe (massa popular romana) essa forma de escravidão foi abolida.

A maior parte dos escravos romanos era obtidos por meio da guerra. Os povos derrotados eram escravizados, vendidos ou empregados nas grandes fazendas do Estado romano, a partir de então o escravo tinha que aprender a língua e os costumes romanos, mas nem por isso eles deixavam suas crenças e valores. Muitos deles também eram utilizados na construção das inúmeras estradas de pedra, que interligavam Roma com as províncias conquistadas em todas as regiões da Europa e também poderiam ser gladiadores, lutando para divertir o público.

Os escravos podiam pertencer ao Estado ou a particulares, eles tornaram-se cruciais para a manutenção da economia romana. Os cidadãos romanos mais ricos contavam com centenas e até milhares de escravos, trabalhando em suas propriedades.

De acordo com Maria Beatriz B. Florenzano (O mundo Antigo: Economia e Sociedade, 1994), a condição do escravo variava muito de acordo com sua origem, seu dono, sua atividade ou se vivia no meio rural ou urbano.  Os escravos urbanos tinham uma vida menos sofrida, do que os escravos que trabalhavam no campo e nas perigosas minas.


Em Roma, os ex-escravos, que eram chamados de libertos, eles podiam comprar sua liberdade e até obter a cidadania, quando passavam a ser considerados romanos, portanto, adquiriam alguns direitos e deveres comuns aos demais cidadãos. Alguns libertos conseguiam obter ascensão social, através do comércio ou tornando-se funcionário público. Na República, o liberto mantinha uma relação com o seu senhor, devendo-lhe o obsequium, uma obrigação moral ou monetária. O senhor, por sua vez, cuidava do liberto como um filho adotivo e lhe garantia sua proteção.


Por causa dos maus tratos que os escravos recebiam, houve muitas rebeliões de escravos no império romano. A mais famosa delas é a revolta liderada Espártaco, entre 73 a 71 a. C., sob seu comando estiveram 92 mil escravos, que acabaram sendo derrotados pelos soldados de Roma.

Chegamos ao fim de nossa viagem pela História Antiga e as origens da escravidão. Como devem ter notado o conceito estudado varia bastante no tempo e no espaço, mas há algumas características gerais que o permeiam, tais como a cerceamento da liberdade e da cultura, a exploração do trabalho, a formação de mercados de escravos e a origem associada às guerras.

Esperamos que todos tenham gostado, qualquer sugestão ou crítica fiquem a vontade para registrar em Comentários!
Aguardem a segunda parte, na qual abordaremos a escravidão moderna.

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